terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Amor em 4 Atos: Antonia Pellegrino: ‘Amo o trabalho da trama’!



Antonia Pellegrino se divide entre a literatura e os roteiros para a TV. A convite de Roberto Talma, ela assina o roteiro do episódio ‘Meu único defeito foi não saber te amar’, dirigido pelo próprio Talma junto com Tande Bressane e inspirado na canção ‘Mil Perdões’.

Como foi feita a escolha da música que inspirou o episódio?

Na época em que o projeto foi aprovado pela TV Globo, o Talma me encaminhou uma lista com dez músicas que poderíamos utilizar e me pediu que fizesse uma sinopse para cada episódio, baseada em uma canção. Como a série faz parte de um projeto multimídia da RT Features, a lista das músicas havia sido escolhida previamente por escritores, para transformá-las em contos, publicados em um livro da ‘Cia das Letras’. Portanto, as canções não tinham necessariamente um foco dramatúrgico, o que dificultou a escolha. As quatro canções escolhidas (‘Construção’, ‘Mil Perdões’, ‘Folhetim’ e ‘As Vitrines’), foram elencadas de acordo com o potencial dramático nelas contido, já que o pressuposto da série era ser fiel aos seus espíritos. Dirigir “Mil Perdões” foi uma escolha do Talma, portanto, desenvolvi o roteiro para ele.

Em que se inspirou para criar o roteiro do episódio?

Em 1953 Nelson Rodrigues escreveu a peça ‘Perdoa-me por me traíres’. A trama gira em torno da jovem Glorinha que, oprimida pelo ciúme do tio, acaba transformando-se em prostituta e, na prostituição se realiza. Quando em 1980 a peça foi adaptada para o cinema, Chico Buarque foi convidado para fazer a trilha e assim nasceu a canção “Mil Perdões”. Homem de sensibilidade diferente de Nelson Rodrigues, Chico Buarque fez a canção avançar o tema do ciúmes. A música trata de um conflito entre duas sensibilidades: uma contemporânea e outra tradicional. A sensibilidade contemporânea é a da própria narradora da canção, uma mulher, que acha que em vidas que andam juntas existem perguntas que não devem ser feitas. Ou seja, uma mulher que ama, é casada, mas apesar disso, ou por isso mesmo, preza a própria liberdade como condição para a manutenção do casamento, a continuação do amor. Esta concepção está oposta a do marido, aflito pelo exagerado ciúme: um trágico, que apesar de saber que age errado, ainda assim o faz. E é justamente este ciúme opressivo que leva a mulher a traí-lo e sentir-se liberada.

Quanto tempo de trabalho foi necessário para alcançar o resultado final?

O resultado final foi alcançado em um mês. A minha maior dificuldade foi ter tido pouco tempo para realizar todo o trabalho.

Você é escritora e roteirista. Na sua opinião, qual a diferença entre os dois trabalhos?

A literatura tem a aventura da linguagem, que muito me encanta. Amo o trabalho da trama e da estrutura nos roteiros. Roteiros não são literatura, apesar de darem tanto trabalho quanto.

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Modificado por Louco's por TM'J