Pela primeira vez desde o acidente, Luciana resolve sair sozinha. Precisa de um tempo para si, acertar a vida. Precisa ver Jorge. “Que surpresa, Lu”, diz ele. E é surpresa mesmo. Jamais a imaginara ali, no horário do expediente. Desde tudo aconteceu, ele meio que se acostumou com uma Luciana inerte, dependente. Está redondamente enganado. “Aconteceu alguma coisa?”, ele quer saber. Luciana responde que sim e que não. O que precisa dizer tem de ser dito da maneira mais objetiva possível, ainda que não seja fácil. Quer tratar do que é essencial pra eles. Há muito que adiam e nunca dizem o que precisava ser dito.
Jorge percebe logo o rumo dessa prosa e se arma: “Quero que você saiba que amo muito você”. Mas Luciana é forte e não se deixa amolecer. Depois de um tempo técnico, um café, ela retoma o assunto: “Não gostei do que você fez, Jorge”. Refere-se à exigência que ele fez junto a Moretti, o afastamento de Miguel. Jorge jura que foi pelo casamento deles e que contaria tudo pra ela. Mas o que ele fez, diz Luciana, foi pisar em cima da relação.
A conversa segue tensa. Ela faz críticas ao jeito analítico e objetivo de Jorge. Mais que um marido que a sustente, ela quer um homem que sonhe como ela: “Que seja meu parceiro, não apenas na vida prática, mas nos projetos que nunca se realizam. E diz que se ressente por ele não a olhar mais como antes: “Uma mulher sente quando é olhada com desejo”.
A conversa ruma para um fim óbvio. Jorge pede um tempo; Luciana nega. O papo ali é definitivo: “Se não posso amar com todo meu corpo, então é melhor que eu fique sozinha”. Ela tenta se segurar, mas as lágrimas escorrem pelo seu rosto. Jorge também está muito emocionado. No fim, os dois se abraçam. Não são mais namorados, apenas amigos.
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