O beijo que Rafaela vê na festa da vila vai ser difícil de esquecer, ainda que a mãe, desesperada, lhe peça pra apagar a cena da memória. “Era um beijo de artista e o moço era lindo”, diz a pequena, se referindo a Bruno, que naquele momento segurava Helena nos braços, como nos finais felizes do cinema. Mas perguntamos: como fazer uma criança se esquecer de um beijo como o da cinderela e do príncipe no clássico de Walt Disney? Impossível. Logo no dia seguinte, no café da manhã, Rafaela encontra Marcos e o encara de maneira significativa, como se tentasse enxergá-lo por trás da epiderme, diretamente na alma. Ou como se quisesse contar alguma coisa.
Marcos estranha, se incomoda. Dora aparece e, por insistência de Marcos acaba sentando-se à mesa . Rafaela, aí, solta uma das suas: “Por que você não foi na festa ontem?”. Dora entra em pânico, certa de que ela vai dar com a língua nos dentes. Marcos responde. Não foi porque não gosta de festas com muita gente. “Tinha o rapaz mais bonito que vi na minha vida”. Dora não deixa que ela termine a frase, se levanta e tenta arrastar a menina lá pra fora. Rafaela não entende por quê. “Não vou falar sobre aquilo, pode deixar”.
Se Marcos estivesse mais atento talvez entendesse o recado nas entrelinhas. Mas depois da noite com Dora provavelmente ele não tenha cabeça para isso.
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