Para Dira Paes, amor não pode rimar com dor. Se estivesse no lugar de sua personagem, a romântica Celeste, que é espancada pelo marido Baltazar (Alexandre Nero) em Fina Estampa, a atriz paraense, de 42 anos, garante que não deixaria barato uma agressão e daria um basta na relação.
"Nunca passei por isso, ainda bem! Mas acho que devolveria as agressões. Ia ser horrível. Jamais seria passiva a uma violência. E eu nunca fui de briga, nunca briguei na rua", afirma ela, que é casada há seis anos com Pablo Baião e mãe de Inácio, de 3 anos.
Mais do que retratar a violência doméstica, Dira conta que a novela pretende discutir por que a mulher se submete ao marido machista e truculento sem procurar ajuda ou denunciá-lo à polícia. Na trama de Aguinaldo Silva, Celeste apanha em silêncio, mas é instigada pela melhor amiga, Griselda (Lilia Cabral), a reagir.
"Celeste é romântica, do tipo que ainda acredita em príncipe encantado e que Baltazar é capaz de mudar. Acho que ela não tem força para virar esse jogo. Ela não é como Griselda, tem medo de perder o marido, de esfacelar a família", analisa a atriz, que já ouve nas ruas o que o público pensa da passividade da personagem. "As pessoas me dizem: 'manda esse homem pastar. Você não merece'".
Cenas
No ar há uma semana, a novela ainda não mostrou Baltazar batendo na mulher. Com o olho roxo e a boca machucada, Celeste só aparece contando a agressão para Griselda. Mas a atriz revela que já gravou uma cena em que leva uma surra. "O Alexandre tem uma técnica boa. Não me machuco em momento algum. É tudo técnico, mas exaustivo, porque a adrenalina sobe. Vai parecer que ele está batendo de verdade e que é muito violento", conta.
Dira diz que conhece casais que já saíram no tapa e continuam juntos. "Esse é um problema que existe em todas as classes sociais", afirma. Para ela, a Lei Maria da Penha trouxe mais proteção para quem denuncia uma agressão, mas ainda há muito medo. "Às vezes, a mulher desiste de dar queixa após fazer o exame de corpo de delito. É duro botar o pai de seu filho na cadeia", constata.
Após viver a fogosa Norminha, que traía o marido Abel (Anderson Müller), em Caminho das Índias, Dira acredita que a safada e a nova personagem tinham muito o que aprender uma com a outra. "Tudo o que a Celeste precisava era de uma dose de Norminha", decreta.
Lei Maria da Penha
A lei 13.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada pelo então presidente Lula em 7 de agosto de 2006. Criada para coibir a violência doméstica contra mulheres, ganhou esse nome em homenagem à cearense Maria da Penha Maia Fernandes, espancada pelo marido durante seis anos. Numa das agressões, ela ficou paraplégica ao levar um tiro. Além de maior rigor nas punições, a lei dá várias garantias às vítimas, como o fornecimento de abrigos provisórios para que a mulher não precise viver junto com o agressor.
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