sábado, 9 de julho de 2011

Bastidores de O Astro: Geraldo Carneirolcides e Alcides Nogueira: deleite em reescrever Janete Clair!



Em 1977, "O Astro" foi um sucesso com a história envolvente de Herculano Quintanilha e o suspense, até seu último capítulo, sobre "quem matou Salomão Hayala?". Aos autores da nova versão da novela de Janete Clair, perguntamos sobre a experiência de se reeditar uma trama que habita o imaginário do públio há mais de 30 anos. Confira a entrevista com Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro:

Deve ser um grande privilégio como autor realizar uma releitura de uma trama de Janete Clair. Como está sendo essa experiência?

ALCIDES NOGUIERA: Realmente é um privilégio, mas também um desafio. O privilégio é porque se trata de uma belíssima história da Janete Clair, como tantas outras dela. O desafio é porque os telespectadores, muitas vezes, estão sentimentalmente ligados à versão original. Há uma memória mais afetiva do que efetiva.

GERALDO CARNEIRO: Estamos nos deleitando e inventando novas tramas. Imagino que Dona Janete, lá no improvável céu dos dramaturgos, nos dê a sua bênção. Ou pelo menos finja que somos mais uma alucinação de Herculano Quintanilha.

Vocês comentaram que não mexeriam nos "pilares de Janete Clair", mas que os personagens agiriam em consonância com os hábitos dos anos atuais. Especificamente, o que muda na versão de O Astro em 2011?

ALCIDES: Para que a trama de Janete mantenha o mesmo impacto que conquistou o público em 1977, decidimos fazer alterações no comportamento de vários personagens. Muita coisa mudou daquela época para os nossos dias... e também podemos hoje discutir com mais profundidade aspectos que Janete, muito corajosamente, colocou em sua história. Ela escreveu debaixo de uma censura terrível. Outras mudanças aconteceram em função do formato. Este O Astro é uma série com 60 capítulos, não uma novela com 180.

Qual foi o principal desafio no processo de releitura para atrair o público da nova geração que não assistiu à primeira versão? Houve essa preocupação?

ALCIDES: Essa preocupação deve ser uma constante. Nós escrevemos para o telespectador, não para nós mesmos ou nossos amigos. O desafio é tornar a trama atual, para que o público de hoje consiga e goste de se reconhecer nessa história.

Herculano Quintanilha: ele é um personagem complexo, ambíguo, um anti-herói. Tais características foram intensificadas na nova versão?

ALCIDES: Herculano Quintanilha é um dos personagens mais fascinantes de nossa teledramaturgia. Foi uma criação absolutamente genial de Janete Clair. O anti-herói, que ninguém sabe se possui poderes ou se não passa de um charlatão... Essas características foram intensificas, até porque hoje há uma tecnologia que favorece, e muito, o clima de magia e ilusionismo que a trama pede.

GERALDO: Herculano, em 1977, era uma raridade, um anti-herói. Hoje vivemos um tempo de cinismo e falta de ética. Em comparação com os vilões de hoje, Herculano, com todos os seus vícios, é um príncipe.

Na primeira versão, Márcio, interpretado brilhantemente por Tony Ramos, tinha o estilo de vida em consonância com o movimento hippie daquela época. Nos dias de hoje, qual o motor da rebeldia do personagem vivido por Thiago Fragoso?

ALCIDES: O Márcio de hoje é um jovem preocupado em viver a vida de maneira livre, de acordo com as suas convicções. Ele se preocupa com a ecologia, com o desenvolvimento sustentável... Está em plena sintonia com o discurso moderno, sem ser chato. Ao contrário. E, como no original, é um jovem puro, de coração nobre.

GERALDO: Acho que sempre existem seres humanos que acreditam que o mundo é maior do que a mera ambição material. Como dizia Shakespeare: “Somos dessa matéria de que os sonhos são feitos. Merecemos sonhar com coisas maiores”.

Além dos sentimentos humanos, a trama aborda a questão do misticismo, da crença naquilo que não vemos, mas que acabam movendo os personagens e também o público. Pessoalmente falando, vocês têm alguma relação com o misticismo?

ALCIDES: Eu acredito em forças superiores às nossas. Não sei quais, e nem como elas se manifestam. Tenho o maior respeito pelos cultos religiosos e pela fé. Acho que ainda somos muito ignorantes no que diz respeito aos mistérios da vida e do universo, e ao pleno funcionamento de nosso cérebro.

GERALDO: Não conheço a astrologia, mas nunca ouvi falar de um governante que não consultasse seus bruxos, desde os gregos até Ronald Reagan. De novo citando meu poeta favorito (Shakespeare): "Há mais coisas no céu e na Terra, Horácio, do que sonha tua filosofia". Aliás, a fiolosofia nunca foi vã, a não ser para o tradutor português que quis manter a métrica do verso. E creio que Herculano Quintanilha assinaria embaixo.

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Modificado por Louco's por TM'J